Ronaldinho Gaúcho vira réu em ação que pede R$ 300 milhões por pirâmide de criptomoedas

Processo em Goiás visa restituir mais de 150 investidores que dizem ter perdido até US$ 500 mil em negócio que prometeu retornos de 2% ao dia. Número de vítimas pode chegar a mil.

O ex-jogador de futebol Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho, virou réu em uma ação civil coletiva que pede R$ 300 milhões em devolução de valores e em danos morais por ligação com o grupo 18K Ronaldinho, que prometia rendimentos de 2% ao dia em aplicações em criptomoedas, como o bitcoin.

Mercado Digital de CRIPTOMOEDA agora na 18k Ronaldinho, com imagem e credibilidade dos maiores jogadores de todos os tempos. Ganhos de até 2% ao dia, pagamento de até 400% do capital investido, sem necessidade de indicar ninguém”, diz o anúncio no site oficial do negócio, ainda no ar.

Segundo o Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec) de Goiás, que move a ação civil coletiva, a firma tem impedido desde o fim do ano passado o acesso de clientes aos valores aplicados, que variam de US$ 50 a US$ 500 mil.

A ação representa 150 pessoas de diversas regiões do Brasil que teriam sido lesadas pelas empresas 18k Ronaldinho Comércio e Participação Ltda. e 18k Watches Comércio Atacadista e Var. de Relógio Ltda.

Segundo o advogado Fernando Henrique Barbosa, do escritório CDB Advogados, que representa o Ibedec-GO e os clientes lesados, o número de vítimas pode chegar perto de mil:

“Hoje são 150 pessoas, mas conforme o processo se torna público, está ganhando proporção maior. Agora há pouco me reuni com dois grupos que representam 250 investidores cada um, ou seja, mais 500 pessoas. Acredito que o total de vítimas vá aumentar”, ele afirma.

E quem são essas vítimas? Em sua enorme maioria, pessoas simples e sem familiaridade com o ambiente de investimentos, seduzidas pela marca de um dos maiores jogadores de futebol da história.

“80% não são investidores recorrentes. É gente humilde que está buscando fonte de renda e foi seduzida pela aparência de empresa sólida e pela pessoa famosa dizendo que jamais mancharia a própria imagem. Muitos venderam carro ou casa ou pegaram dinheiro no banco para investir”, explica Barbosa.

Com base nos relatos, ele e a colega Raquel Carvalho Diniz relatam esquema similar ao das pirâmides, em que pessoas são seduzidas por promessas exorbitantes e, diante dos primeiros rendimentos pagos, sentem segurança para aplicar mais e convidar amigos e familiares.

Nos primeiros meses os clientes da 18K Ronaldinho de fato receberam o retorno prometido – segundo especialistas, nesses casos os ganhos dos pioneiros não são pagos com rendas de investimentos, como prometido, mas com os aportes das segundas, terceiras e quartas “gerações” de entrantes.

“Um primeiro grupo investiu US$ 300 no primeiro mês. Quando viram que teve o retorno prometido, essas pessoas fizeram novos aportes em valores maiores”, explica Raquel.

Além de Ronaldinho, também são réus no processo os diretores da empresa Marcelo Lara Marcelino e Bruno Rodrigues Alcântara, além dos colaboradores Raphael Horácio Nunes de Oliveira e Athos Trajano da Silva, que, segundo a acusação, ajudavam a arregimentar novos clientes.

“Nas pirâmides, é comum ter uma parcela de ‘estimuladores’, gente que afirma estar ganhando muito dinheiro e ajuda a segurar as pessoas no negócio”, diz Barbosa.

Nesse caso, ele acrescenta, a 18K Ronaldinho tinha um “selo” de qualidade de uma entidade, a AbraNetwork (Associação Brasileira de Network E Marketing), uma associação que certifica empresas que estão aptas a trabalharem com marketing multimídia.

Hoje, a 18K Ronaldinho figura como “empresa com adesão suspensa” no site da entidade.

Por Rafael Gregorio, Valor Investe — São Paulo

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