Nos últimos anos, a Argentina tem enfrentado uma crise econômica severa, caracterizada por uma inflação galopante, câmbio deteriorado e escassez de dólares.
Esse cenário tem levado muitos argentinos a cruzar a fronteira em busca de melhores preços em produtos básicos, roupas e eletrodomésticos no Brasil. A combinação da desvalorização do peso argentino e a atratividade das ofertas brasileiras resultou em um fluxo significativo de turistas argentinos, que não apenas buscam lazer nas praias brasileiras, mas também aproveitam para fazer compras.

Contexto econômico Argentino
A crise econômica na Argentina se intensificou ao longo das últimas décadas. O país contraiu uma dívida bilionária com o Fundo Monetário Internacional (FMI) na tentativa de manter suas reservas. No entanto, sucessivos governos não conseguiram reverter a situação, levando à adoção de medidas de austeridade fiscal pelo presidente Javier Milei. Essas medidas resultaram em um superávit inédito em 2024, mas a inflação ainda permanece alarmante, atingindo 117,8% no final do ano passado.

Efeito da crise nas compras
Com os preços no Brasil sendo consideravelmente mais baixos, muitos argentinos optam por viajar para realizar compras. Uma residente de Buenos Aires comentou: “Como está mais barato aqui, compramos mais; vamos ao shopping e ao centrinho.” O custo de produtos alimentícios, como milho e outros itens básicos, é significativamente inferior ao que se encontra na Argentina.

Turismo em alta
Os dados do Ministério do Turismo brasileiro revelam que 2024 foi um ano recorde para o turismo internacional no Brasil, com mais de 6 milhões de turistas estrangeiros visitando o país. Dentre eles, os argentinos desempenharam um papel crucial: em dezembro de 2024, 242.000 argentinos ingressaram no Brasil, representando 35% do total de visitantes estrangeiros no mês. O aumento foi de 57% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A valorização do peso argentino (40%) em contraste com a desvalorização do real (21,82%) proporcionou uma vantagem cambial histórica aos turistas argentinos. Por exemplo, enquanto o milho custa cerca de US$ 2 em Itapema, o mesmo produto pode ser encontrado por quase US$ 4 em praias argentinas.
Movimentação aérea e fronteiriça
As companhias aéreas aumentaram significativamente a frequência dos voos entre Argentina e Brasil, com mais de 40 voos diários partindo apenas de Buenos Aires. Além disso, as passagens aéreas emitidas na Argentina cresceram 64,8%, refletindo um interesse crescente por viagens ao Brasil.
Por via terrestre também houve um aumento expressivo: em Uruguaiana, as entradas aumentaram 48% em dezembro comparado ao ano anterior. Em todo o ano de 2023, mais de 1 milhão de argentinos entraram no Brasil através das fronteiras.
Conclusão
O fenômeno da “invasão” argentina ao Brasil para veranear e fazer compras é um reflexo direto da crise econômica enfrentada pela Argentina e das oportunidades que o Brasil oferece neste contexto. Com preços mais acessíveis e uma infraestrutura turística robusta, o país se tornou um destino irresistível para os “hermanos”, que buscam não apenas lazer nas suas praias ensolaradas, mas também alívio financeiro nas compras que realizam durante suas estadias. As expectativas para o turismo argentino no Brasil seguem otimistas para 2025, prometendo um crescimento contínuo nesse intercâmbio econômico e cultural entre os dois países.