Fonte: Elijonas Maia, da CNN, em Brasília
Atualizado 17/06/25 às 11:16
A Polícia Federal (PF) finalizou as investigações sobre o uso ilegal de ferramentas de monitoramento na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), resultando em um relatório que foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). O caso, que ganhou notoriedade como “Abin Paralela”, revelou um esquema de espionagem que envolveu figuras proeminentes do governo anterior.
Entre os indiciados estão o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). No total, mais de 30 pessoas foram implicadas por suspeitas de utilizar a estrutura da Abin para monitorar ilegalmente autoridades públicas e ministros do STF.
A Organização do esquema
De acordo com o relatório da PF, Alexandre Ramagem é apontado como o principal responsável por coordenar esse esquema ilegal. Durante seu mandato como diretor da Abin no governo Bolsonaro, ele teria organizado a utilização irregular de recursos da agência para rastrear cidadãos sem respaldo legal.
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado por ter conhecimento do funcionamento da estrutura paralela e por não ter tomado medidas para interromper as práticas de espionagem. As investigações sugerem que ele se beneficiou diretamente das informações obtidas por meio desse sistema.
Carlos Bolsonaro, por sua vez, foi indiciado por liderar o chamado “gabinete do ódio”, grupo que supostamente utilizou as informações coletadas pela Abin paralela para atacar adversários políticos nas redes sociais.
Tentativas de obstrução
A cúpula da Abin também foi indiciada por tentativas de obstruir as investigações. Em uma das fases da operação, funcionários da agência teriam ocultado computadores que foram posteriormente encontrados e apreendidos pela PF.
As investigações revelaram que um sistema israelense de geolocalização chamado FirstMile foi utilizado de maneira irregular para espionagem, especialmente em 2021, durante um período pré-eleitoral. A ferramenta, desenvolvida pela empresa Cognyte (ex-Verint), teria possibilitado o rastreamento de até 10 mil celulares anualmente nos três primeiros anos do governo Bolsonaro.
Alvos da Espionagem
A investigação indicou que ministros do STF, deputados e jornalistas foram alvos dessa “Abin paralela”, que operava fora dos procedimentos legais estabelecidos para a agência.
A reposição da CNN Brasil, fonte de nosso matéria, tentou contato com as defesas dos citados sem sucesso até o momento. Em resposta ao indiciamento, Carlos Bolsonaro ironizou em suas redes sociais: “Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”.
Reunião reveladora
Um dos principais elementos do inquérito é uma gravação de uma reunião realizada em 2020, divulgada publicamente em julho do ano passado. A gravação mostra Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem discutindo estratégias para monitorar auditores da Receita Federal envolvidos nas investigações sobre o caso da “rachadinha”, um esquema controverso no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Na gravação, Ramagem sugere a criação de um procedimento administrativo contra os auditores para anular a investigação. Na época da divulgação, ele declarou que Bolsonaro se manifestou contra favorecimentos ou “jeitinhos”. Flávio Bolsonaro também comentou sobre a gravação, afirmando que ela apenas mostra suas advogadas comunicando suspeitas sobre interesses políticos dentro da Receita Federal.
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