Religioso que teria exigido 1kg quilo de ouro em propina foi exaltado pelo próprio ministro da Educação no congresso evangélico local.
Os pastores evangélicos denunciados pela participação num suposto gabinete paralelo do Ministério da Educação são conhecidos do grande público do evento Gideões Missionários da Última Hora que acontece anualmente em Santa Catarina. Junto do ministro da Educação, Milton Ribeiro, eles estiveram na cidade-sede do congresso, Camboriú, no ano passado.
A reportagem do Diarinho apurou que os religiosos Milton Santos e Arilton Moura Correia, ambos pastores da Assembleia de Deus, integraram a programação oficial do chamado “Pré-Congresso dos Gideões”, ocorrido nos dias 16 e 17 de outubro de 2021, na cidade que se notabilizou por um dos maiores eventos evangélicos do Brasil.
Na pregação do dia 17, o ministro Milton Ribeiro, agora citado no escândalo, fez questão de frisar que não estava no congresso “como ministro” e nem “pago pelo MEC”, mas sim a “serviço de Deus”. E chega a destacar, entre os pastores, a presença de Gilmar e Arilton para o grande público presente.
A minha amizade ao pastor Gilmar, ao Arilton, que estão lá em Brasília, mais perto”, chegou a discursar o ministro. E finalizou, sob aplausos:
“Tenho que dizer que meu general é Cristo, mas meu capitão é Bolsonaro”.
Durante a pregação, o pastor Gilmar fala que está há 40 anos na evangelização, aborda a questão das missões e da obra de caridade da igreja na Amazônia e no continente africano, e que os políticos que ainda não seriam evangélicos, teriam que passar “pela conversão”. O pastor ainda observou que Milton Ribeiro seria um “luzeiro” à frente do MEC, e confessou que o também pastor Arilton seria a “base do trabalho deles” em Brasília.
As pregações, tanto do dia 16 como do dia 17, demonstram amplo tom de campanha eleitoral para Jair Bolsonaro (PL) à reeleição – Milton Ribeiro chega a chamar o senador Jorginho Mello (PL) de “futuro governador de Santa Catarina”.
Cinco meses depois das pregações e da presença do ministro em Camboriú, nesta quarta-feira estourou o escândalo – denunciado pela Folha de São Paulo e também pelo Estadão –, acerca do chamado gabinete paralelo, após filmagens e fotos da atuação dos pastores – que não são servidores do MEC – intermediando recursos públicos. O orçamento da Educação é de R$ 34 bilhões.
O escândalo começa com o áudio em que o ministro da Educação afirma que o governo prioriza prefeituras cujos pedidos de liberação de verba foram negociados pelos dois pastores – e se agravou com a revelação de que Gilmar teria pedido uma “propina de um quilo de ouro” ao prefeito Gilberto Braga (PSDB), da cidade de Luis Domingues, no Amazonas, visando a liberação das verbas públicas.
No áudio, Ribeiro afirmou que a ordem de favorecer os amigos de Arilton e Gilmar partiu do presidente da República. “Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, conforme, segundo disse, “pedido do presidente Jair Bolsonaro”.
O ministro Milton Ribeiro negou as acusações. Disse em nota que desde fevereiro de 2021 foram atendidos 1837 municípios em todas as regiões do país, em reuniões “eminentemente técnicas”, que constam da agenda do Ministério.
“O presidente não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem”, afirmou.
Sobre os pastores
O ministro Milton Ribeiro tem 63 anos, é teólogo e advogado com doutorado em Educação, e também pastor da Igreja Presbiteriana. Está à frente do MEC desde maio de 2019, e já foi reitor em exercício e vice-reitor da Universidade Mackenzie, em São Paulo..
Foi indicado por André Mendonça, também pastor evangélico e agora ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) por, segundo Bolsonaro, ser “terrivelmente evangélico”.
Gilmar Silva dos Santos, de 61 anos, comanda o Ministério Cristo Para Todos, uma das várias ramificações da Assembleia de Deus em Goiânia (GO).
O pastor Arilton, do Pará, preside o conselho político da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros de Assembleias de Deus no Brasil Cristo para Todos.
Fonte e Créditos totais: Jornalismo Diarinho