Se o estudo estiver certo, as cidades de Camboriú, Itajaí e Balneário Camboriú, que hoje registram juntas 18,25 % dos casos confirmados no estado, teriam mais de 9 mil mortes.
O Estudo
Um grupo formado por engenheiros e matemáticos das duas universidades fez uma análise técnica dos dados sobre a doença que indicou uma significativa expansão da covid-19 no estado a partir do início do mês, quando o governo começou a afrouxar a quarentena. A projeção aponta para mais de 1,4 milhão de mortes no país e no mínimo 50 mil mortes do estado pela doença. O estudo foi recebido pela reitoria da UFSC e seria encaminhado ao ministério Público.
A projeção leva em conta que até agora, em nenhum país, mesmo nos mais equipados, foi observada uma taxa de morte abaixo de 0,7% da população. Nos gráficos gerados pelos especialistas, havia um efeito de “achatamento” da curva de contaminação até 1º de abril, sendo depois observado um aumento menos controlado dos casos, com a “verticalização” da curva de contágio. Segundo o estudo, o aumento coloca o estado, com o Brasil na mesma tendência, no caminho de países como Itália e Estados Unidos, com alta taxa de infecção e mortes.
Os especialistas usaram modelagem matemática e dados reais da infecção no estado, no país e no mundo. Os números mostram uma aceleração descontrolada da epidemia, numa situação que tende a ficar mais crítica com a liberação de novas atividades e o problema da falta de testes dos infectados.
“O número registrado de óbitos por Covid-19 mais do que triplicou no nosso estado durante a última semana (passou de 5 para 18), mostrando que não é fácil evitar um desenlace trágico na evolução de muitos pacientes”, diz o estudo.
Diante da análise, o professor Oscar Bruna-Romero, do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, defende uma testagem massiva para então se fazer a liberação gradual das pessoas.
“Não existe qualquer justificativa científica para a flexibilização de medidas de isolamento social estrito (quarentena total) mantido até o controle da pandemia”, disse no parecer, destacando que esse é o mesmo entendimento da comunidade científica internacional.
Governo discorda de estudo e diz não haver flexibilização
Em entrevista coletiva ainda na sexta-feira, o secretário estadual de Saúde, Helton Zeferino, disse respeitar a pesquisa, mas que o estado está adotando o modelo epidemiológico do Imperial College, de Londres, pra fazer o acompanhamento da curva de infecção em Santa Catarina, conforme a realidade local.
O governador Carlos Moisés (PSL) disse saber de diversas pesquisas que indicam “cenários ruins” com várias projeções para o estado, mas não concordou com o estudo. Ele disse não ser correto dizer que houve um salto no número de mortes, destacando que é preciso considerar o período do início dos sintomas até a morte e não apenas quando ela é divulgada.
“A nossa curva não teve nenhum momento agudo. Ela vem se desenvolvendo ao longo do tempo, até em resposta a esse esforço de isolamento que nós estamos fazendo”, afirmou. Neste sábado, o governador insistiu que as novas liberações não representam uma flexibilização da quarentena e que o estado segue a diretriz do ministério da Saúde de liberações “setorizadas”.
O governador ainda quis dividir a responsabilidade com os municípios, falando da possibilidade de definir medidas regionalizadas e afirmando que os municípios podem estabelecer restrições mais severas nas cidades. Itajaí, Balneário Camboriú e Navegantes ainda vão definir o posicionamento após a decisão do estado neste sábado. Em Itapema e Penha, as prefeituras já anunciaram que vão seguir o decreto estadual.
Estudo coloca SC entre os estados menos transparentes
Santa Catarina está entre as piores avaliações do país no que diz respeito à divulgação de informações sobre a situação do coronavírus. Conforme estudo da Open Knowledge Brasil, divulgado na quinta-feira, o estado aparece na 18ª colocação no ranking de transparência, com nível “opaco”.
A análise leva em conta o que o governo divulga sobre a quantidade de testes, ocupação de leitos, atendimento dos casos e perfil dos pacientes. Conforme a entidade, 78% dos estados ainda não publicam informações suficientes à população. Pernambuco tem a melhor avaliação. São Paulo e Rio de Janeiro aparecem com índice “bom”.
Em Santa Catarina, o estudo aponta que o estado vem melhorando desde o dia 3 de abril, quando passou a divulgar boletins oficiais mais detalhados da pandemia.
Fonte: Diarinho