Os volumes de chuvas em Santa Catarina estão fora da normalidade desde o segundo semestre do ano passado.
Uma nota técnica publicada pela SDE (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável) e pela Sema (Secretaria Executiva de Meio Ambiente) alerta para a necessidade urgente de medidas contra o possível desabastecimento de água na maioria dos municípios catarinenses. A situação já é considerada crítica em pelo menos 20 localidades e uma das estiagens mais severas dos últimos anos no Estado.
Na nota em que declara o prolongamento de escassez hídrica nos cursos d’água do Estado, a SDE afirma que a estiagem irá ocasionar, em grande parte das regiões hidrográficas do Estado, indisponibilidade de água e/ou redução de recursos hídricos.
A secretaria recomenda que as prefeituras adotem medidas de uso racional da água, como a proibição de lavagem de calçadas, resfriamento de telhados e irrigação de jardins “atividades notadamente reconhecidas como promotoras de desperdício de água”. A SDE também faz recomendação à indústria para que adote sistemas de reuso de água.

Estiagem abrangente
Os volumes de chuvas em Santa Catarina estão fora da normalidade desde o segundo semestre do ano passado e, segundo a Previsão Climática do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Epagri/Ciram), as precipitações deste trimestre (abril a junho) continuarão abaixo do esperado e necessário para melhorar o nível dos rios.
Na semana passada, a Epagri/Ciram chegou a 27 estações em situação de estiagem, o resultado mais crítico desde 2013. O coordenador da Sala de Situação da Epagri/Ciram e ANA (Agência Nacional de Águas), Guilherme Xavier de Miranda Junior, explicou que a diferença dessa estiagem para a ocorrida no ano passado é a abrangência, que alcança quase todo o Estado.
De acordo com o hidrólogo, em algumas regiões catarinenses, a falta de chuva chega a 600 mm. “Esta é uma das estiagem mais severa já registrada em Santa Catarina desde 1978 e outra em 2006. A chuva não está infiltrando e não está contribuindo para o lençol freático. Isso é importante porque é o que mantém os rios. Desde 1978 e 2006 não temos uma situação parecida no estado”, afirmou Miranda Junior.
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Municípios em situação crítica
As chuvas registradas na Grande Florianópolis nesta terça-feira (28) podem ter amenizado o calor, mas não ajudaram a reduzir a gravidade da estiagem que se prolonga na região.
A situação local é preocupante, no entanto, em outras regiões. Em pior condição estão o Meio Oeste, Oeste, Extremo Oeste, Planalto Serrano, Litoral Centro, Litoral Sul e Vale do Itajaí onde a escassez de água é uma realidade.
Até esta terça (28), segundo a SDE, havia 120 municípios em atenção, 27 em alerta e 20 em estado crítico. Destes, 40 municípios já decretaram estado de emergência, inclusive por problema de abastecimento rural.
Um desses municípios é São Miguel do Oeste, que é abastecido pela Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento). De acordo com a estatal, o abastecimento na cidade está sendo feito de forma intercalada entre os bairros durante períodos de até 12 horas.
Na região serrana, o rio Antonina, manancial responsável pelo fornecimento, está praticamente seco e a Casan está utilizando açudes e poços para poder abastecer cidades como São Joaquim.
Dificuldades semelhantes também estão ocorrendo em Barra Velha e São José do Itaperiú, no Litoral Norte, e em Itaiópolis, no Vale do Itajaí, segundo a companhia.
Na Grande Florianópolis, o rio Vargem do Braço está 50% abaixo de seu volume normal para esse período. Esse manancial é um dos principais utilizados pela Casan para abastecer São José, Biguaçu, Santo Amaro da Imperatriz e parte de Florianópolis, que fazem parte do Sistema Integrado de Abastecimento. Para reforçar esse sistema e evitar desabastecimento, a companhia instalou bombas no rio Cubatão.
Na Ilha de Santa Catarina, a Lagoa do Peri teve a captação reduzida em 40% para preservar o manancial e entraram em operação nove poços do Aquífero do Campeche, que estão abastecendo a região.
Geração de energia 50% menor
A estiagem também afeta o funcionamento de UHEs (Usinas Hidrelétricas) e, portanto, a geração de energia elétrica. A Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) conta, em todo o Estado, com 12 PCHs (Pequenas Centrais Elétricas) que há pelo menos seis meses operam muito abaixo da capacidade, segundo informou o diretor de Geração, Transmissão e Novos Negócios da empresa, Pablo Cupani. “De janeiro até agora, estamos gerando 50% a menos do previsto”, apontou Cupani.
No entanto, o diretor ressaltou que não há motivo de preocupação com desabastecimento de energia elétrica porque o Estado faz parte do SIN (Sistema Interligado Nacional) e recebe a energia gerada em outras regiões do País.
“A população pode ficar tranquila, pois não há risco de Santa Catarina ficar sem energia”, disse Pablo Cupani.
Comitê acompanhará crise
A criação de um Comitê Gestor da Seca em Santa Catarina recomendada pela Sema já está em andamento. Os convites foram enviados na terça (28) aos órgãos ligados à gestão de recursos hídricos e, provavelmente, seja oficialmente montado até o final desta semana, segundo o secretário-executivo de Meio Ambiente, Leonardo S.B. Porto Ferreira.
O secretário explicou que esse comitê fará reuniões semanais onde os participantes apresentarão as informações de suas respectivas áreas e que embasarão as tomadas de decisões.
“Nós, do governo, vimos como a melhor solução para o momento reunirmos todos os dados possíveis para entender a situação. Isso torna o enfrentamento mais fácil”, disse Ferreira.
Ele salientou que o Estado passa por uma situação de escassez hídrica, mas que não é inédita e que o governo reuniu especialistas que viveram outras crises para ajudar na solução. “É importante a população ter consciência do problema que já ocorreu outras vezes. Não é um problema sem solução e vai passar”, afirmou.
Confira os municípios que decretaram Situação de Emergência e solicitaram homologação ao Estado(*):
Abdon Batista
Arabutã
Arvoredo
Atalanta
Bandeirante
Belmonte
Brunópolis
Concórdia
Cunhataí
Entre Rios
Fraiburgo
Ipira
Ipumirim
Iraceminha
Itá
Itapiranga
Ituporanga
Jaborá
Laurentino
Mondaí
Monte Carlo
Nova Itaberaba
Ouro
Palmitos
Passo de Torres
Peritiba
Petrolândia
Presidente Castello Branco
Riqueza
Saltinho
Santa Helena
Santa Terezinha do Progresso
Santiago do Sul
São Carlos
São João do Oeste
São Miguel da Boa Vista
Saudades
Seara
Tigrinhos
Tunápolis
Urupema
Vargem
Vidal Ramos
Xavantina
Zortéa
* Dados informados pela Defesa Civil na terça-feira (28)
Via ND+
