Cavalgada em Nova Trento: Tragédia, maus-tratos e falta de fiscalização marcam evento tradicional

Nova Trento, SC – O que deveria ser uma celebração de fé e tradição se transformou em um palco de denúncias, acidentes graves e uma morte, levantando sérias questões sobre a organização e segurança da cavalgada de Nova Trento, realizada no último sábado (30). O evento, que atraiu participantes de diversas cidades do Vale do Itajaí, está sob intenso escrutínio de grupos de proteção animal devido a alegados maus-tratos a cavalos, além de ter provocado transtornos significativos no trânsito e culminado em um acidente fatal.

 

Fonte da reportagem: Jornal Razão

Denúncias de maus-tratos e precariedade estrutural:

Relatos de protetores de animais, como Bianca Machado, pintam um quadro de desorganização e negligência. Segundo Machado, a cavalgada foi marcada pelo consumo excessivo de álcool e, de forma mais preocupante, pelo descaso com os animais.

“Se acontecesse qualquer coisa, não tinha veterinário, não tinha ambulância, não tinha nada. E o pior é que o pessoal da bagunça toma conta. Na sexta-feira eles já estavam reunidos, bebendo muito, e os cavalos ficaram amarrados sem água e sem comida”, relatou.

As denúncias apontam que muitos participantes chegaram já na sexta-feira (29), vindos de cidades como Itajaí, Itapema e Camboriú, e se instalaram em acampamentos. Nesses locais, os animais teriam permanecido amarrados em condições consideradas precárias, com acesso limitado a alimento e água de qualidade insuficiente. Machado enfatiza que os maus-tratos vão além da falta de cuidados básicos, abrangendo o esforço excessivo imposto aos animais, potencializado pelo consumo de álcool por parte de alguns cavaleiros. Ela ressalta, contudo, que não se trata de uma generalização, mas de uma parcela de participantes que “mancha o evento” e prejudica a imagem da cavalgada.

Acidentes e imagens preocupantes:

Durante o percurso, um incidente grave chamou a atenção: uma carroça desgovernada despencou em uma ribanceira, resultando em um homem gravemente ferido com deslocamento de clavícula. Os animais que puxavam a carroça também sofreram lesões e estão em processo de recuperação. Este episódio reforçou as críticas quanto à ausência de medidas de segurança adequadas.

Adicionalmente, um vídeo que circulou amplamente nas redes sociais no domingo (31) expôs dois cavalos em visível estado de exaustão, lutando para puxar uma carroça abarrotada em uma inclinação. Um dos animais quase cedeu ao cansaço, gerando indignação e múltiplas denúncias de maus-tratos.

Ausência de fiscalização e caos no trânsito:

Uma investigação do Jornal Razão revelou que o Grupo de Trânsito de Brusque não registrou qualquer pedido de autorização oficial para a realização da cavalgada neste ano. Embora em edições anteriores o órgão tenha prestado auxílio em cruzamentos, desta vez não houve comunicação por parte dos organizadores. Agentes de trânsito indicaram que a fiscalização, que poderia envolver a Polícia Militar, Polícia Ambiental e Fundema, não foi efetivamente realizada durante o evento.

A falta de controle resultou em transtornos no tráfego para os moradores locais. Carroças circulando em vias de grande movimento causaram congestionamentos e incidentes. Na noite de sexta-feira, duas colisões veiculares ocorreram em Brusque, nas proximidades do bairro Cedrinho, atribuídas à presença de carroças na pista.

Tragédia em acampamento:

O domingo (31) foi marcado por uma fatalidade. Um homem de 58 anos, participante da cavalgada, foi encontrado morto em um acampamento no bairro Vígolo, em Nova Trento. Segundo informações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), a vítima apresentava dificuldades respiratórias por volta das 8h40. Apesar do acionamento do helicóptero Arcanjo, o óbito foi confirmado. O Instituto Médico Legal (IML) recolheu o corpo, e o caso está sob investigação.

Apelo por providências e responsabilização:

Diante do cenário de denúncias de maus-tratos, relatos de consumo excessivo de álcool, acidentes, carência de estrutura e a morte de um participante, a pressão por medidas de fiscalização mais rigorosas tem aumentado. Organizações de defesa dos animais exigem a responsabilização dos organizadores e clamam pelo estabelecimento de regulamentações claras para assegurar o bem-estar animal e a segurança pública em eventos futuros.

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