Revolução no transporte Brasileiro: Ferrovias Chinesas em Foco
Nos últimos anos, o Brasil tem visto um aumento significativo no interesse por projetos ferroviários, especialmente aqueles ligados à Ferrovia Norte-Sul e à Ferrovia de Integração Oeste-Leste. Essas iniciativas prometem revolucionar o transporte de mercadorias, reduzindo em até 10 dias o tempo de entrega entre o Brasil e a China, atualmente realizado via Oceano Atlântico. No entanto, essa transformação não se limita a um único projeto; a expectativa é que mais ferrovias chinesas sejam implementadas no país, alterando profundamente o cenário logístico e impactando diretamente setores como o de caminhões.
Duas gigantes do setor ferroviário da China, a China Railway Construction Corporation (CRCC) e a China Railway Engineering Corporation (CREC), estão à frente de várias rotas. Uma delas parte do Porto de Açu, no Rio de Janeiro, passando por cidades como Corinto (MG), Uruaçu (GO) e Lucas do Rio Verde (MT), até chegar a Porto Velho (RO). Outra rota ambiciosa liga o Porto de Santos (SP) a Antofagasta (Chile), atravessando Paraguai e Argentina.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, destacou a importância dessas parcerias durante uma reunião com o presidente Xi Jinping. “Já estamos tratando disso com a China desde o primeiro mês do governo Lula. Eles querem rasgar o Brasil com ferrovias”, afirmou. O desafio é que a construção de uma vasta rede ferroviária requer investimentos significativos, os quais não podem depender apenas de dinheiro público.
Mas como isso impactará a indústria de caminhões? Embora haja preocupações sobre uma possível diminuição da demanda por caminhões devido ao aumento das ferrovias, especialistas da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) acreditam que essa transição não necessariamente será prejudicial para o setor. Em 2024, o Brasil produziu 149.146 caminhões e exportou 25.827 unidades. As montadoras precisarão se adaptar às novas demandas, talvez focando mais em caminhões urbanos ou menores para cobrir distâncias reduzidas.

As novas ferrovias brasileiras terão trilhos com bitola larga, medindo 1.600 mm entre as rodas. Com essa infraestrutura, espera-se que o país reduza sua histórica dependência dos caminhões — que ocupam espaço excessivo nas estradas e aumentam os riscos nas vias — ao mesmo tempo em que diminui os custos de transporte.
Além disso, há planos para investimento em linhas de trens de passageiros, incluindo a possibilidade do famoso trem-bala. Isso pode alterar significativamente as dinâmicas das viagens interurbanas e impactar diretamente a indústria automobilística.
A Ferrovia Bioceânia Brasil-Peru é outro projeto relevante que começa na Bahia — onde a BYD planeja fabricar carros elétricos — e passa por Minas Gerais, um importante polo de mineração de lítio essencial para as baterias dos veículos elétricos.
Em suma, estamos à beira de uma revolução nos transportes brasileiros que pode trazer benefícios significativos para muitos setores enquanto desafia outros. O fato é que esse projeto ferroviário ficou engavetado por uma década e agora parece estar ganhando vida, prometendo transformar a logística nacional como nunca antes visto.