Enquanto milhares de comerciantes estão impedidos por Decreto Estadual de abrirem suas portas, algumas lojas da Havan de Luciano Hang, como a unidade de Itajaí a situação está é difícil. A loja aproveitou a liberação da venda de chocolates, para vender outros itens, como brinquedos etc.
A denuncia foi feita por comerciantes e um grupo de moradores. A Polícia Militar comprovou que q loja estava vendendo outros itens além de chocolates; houve mini protesto na porta da unidade da Fazenda e a loja foi notificada.
PM esteve na Havan ao meio-dia deste domingo (Foto: Franciele Marcon)
Cópias de notas fiscais e depoimentos gravados em redes sociais denunciaram desde as primeiras horas da manhã de sábado, que as unidades das lojas Havan em Santa Catarina estavam vendendo bem mais do que chocolates. Pijamas, edredons, televisores, celulares lâmpadas e brinquedos estariam entre os itens comercializados pela Havan. Na hora do almoço deste domingo, uma comerciante que está amargando prejuízos com o seu comércio de portas fechadas e está revoltada com o que chama de “concorrência desleal” da rede que tem 40 lojas em Santa Catarina, resolveu fazer a prova de que havia ilegalidade no funcionamento da loja.
Aline Seeberg Aranha, de 47 anos, comprou três brinquedos da fabricante Líder, na unidade da Havan do bairro Fazenda. Com a nota fiscal em mãos demonstrando a irregularidade, ela acionou a polícia Militar. Uma viatura da PM esteve no local e conversou com a gerência da loja. A Havan foi notificada e pode até ser fechada se voltar a infringir a permissão de vender apenas itens alimentícios.
“Comprei chocolates e três bonecos de plástico embrulhados em acrílico da marca Líder (fabricante de boias de piscina). A justificativa da Havan é que os chocolates são itens perecíveis e também alimentos e, portanto, têm permissão para serem vendidos. Acontece que bonecos de plástico não estragam. O dono da Havan pode guardar essa mercadoria para ser revendida quando o todo o comércio estiver liberado para trabalhar. Minha loja está de portas fechadas e fiz um investimento de compras de itens de Páscoa no valor de R$ 150 mil. Se eu não posso estar de portas abertas, como gostaria, porque o dono da Havan pode,” questionava Aline.
Aline e um grupo de moradores de Itajaí fez cartazes e organizou um protesto silencioso na frente da loja. “Nós que estamos aqui estamos cumprindo o decreto de isolamento social. Fizemos cada um o seu cartaz, viemos cada qual no seu carro, nos postamos aqui a 1,5 metro de distância cada um, estamos munidos de máscaras e álcool em gel. Mas viemos protestar pessoalmente para que as pessoas percebam a injustiça que é esse tratamento privilegiado que recebe a Havan enquanto todo o comércio está de portas fechadas. Eu também gostaria de estar com as minhas duas lojas abertas hoje, mas eu não posso, porque tem um decreto do governador. Que assim seja para todos. Eu também vendo brinquedos, eu também vendo itens de Páscoa, eu também gero emprego e tenho fornecedores para pagar,” desabafou.
“O brinquedo que comprei estava na seção de chocolates, mas é uma mercadoria que é vendida o ano inteiro. A intenção foi ludibriar, se aproveitar, o que acho mais grave ainda. O lema dessa loja é o ´Brasil que a gente quer depende nós´.
O Brasil que eu quero depende de respeito, depende de igualdade e depende de as pessoas e os comerciantes agirem dentro da lei”, continuou.
A professora e artista plástica Silvana Rocha, 52, fez coro à comerciante Aline.
“Se os comerciantes não podem abrir seus comércios, então isso precisa valer para todos. A gente quer um país melhor e um país de igualdade de oportunidades. Isso que estamos pedindo aqui: igualdade de tratamento”, comentou.
Resgatou computador
A cirurgiã-dentista Eliane Porto, 32 anos, também esteve na loja no mesmo horário que a comerciante Aline e conseguiu resgatar um equipamento que deixou na assistência técnica.
“Eu acho um absurdo terem aberto. Os funcionários não têm orientação de como usar os equipamentos de proteção individual. A caixa tirou a máscara quando fui conversar com ela. Estão todos sendo expostos”, conta.
Outro setor da loja que estava em pleno funcionamento era o de crediário. A loja aproveitou as portas abertas para avisar à clientela que estava recebendo o pagamento dos carnês do crediário. Havia grande movimentação de clientes indo à loja para pagar suas contas.
Notificada pela polícia
A polícia Militar ficou cerca de duas horas em frente da loja até decidir qual procedimento seria tomado em relação a infração. Segundo o capitão Rafael Marcon, da PM de Itajaí, a loja Havan foi notificada e advertida pela infração da venda do brinquedo.
O capitão determinou que fosse feito um corredor de isolamento no entorno do setor de chocolates, impedindo o acesso dos consumidores aos demais setores da loja. A partir da visita da PM, do setor de chocolates o cliente só poderia acessar diretamente os caixas.
“Se alguém flagrar outra irregularidade deve ser feita nova denúncia a PM, e se voltar a acontecer, a loja será fechada”, informou o policial.
O capitão ouviu dos funcionários da loja que justificaram que os bonecos de plásticos estavam embalados em caixas ovais de acrílico e na seção de chocolates. Os brinquedos fariam, portanto, parte dos itens de Páscoa. “Se fosse uma roupa flagrada sendo vendida, a loja seria fechada”, informou.
O DIARINHO recebeu cópias de notas fiscais de outras mercadorias compradas na loja, mas o policial explicou que a polícia Militar deve ser comunicada no mesmo instante da compra, para que haja a situação de flagrante.
O ministério Público explicou que a ação da PM em Itajaí foi a correta. O primeiro passo é a notificação e advertência. Se o estabelecimento voltar a desrespeitar o que foi determinado, a PM deve lacrar a loja.
No sábado a loja da Havan de Porto Belo foi fechada pela polícia Militar justamente por estar vendendo todo tipo de mercadorias.
O MP também orientou a população a fazer as denúncias através da ouvidoria do ministério Público. Além do relato da denúncia, os clientes devem enviar os cupons fiscais e as fotos dos produtos comprados. O e-mail de contato é o ouvidoria@mpsc.mp.br. Os telefones são o 127 e (48) 3229-9306.
Denúncias de outras regiões
Durante todo o final de semana, o plantão de reportagem do DIARINHO recebeu denúncias de que a Havan estava vendendo todo tipo de mercadorias. No sábado, uma cliente postou nas redes sociais a nota fiscal mostrando que gastou R$ 219, 94 na loja. No cupom fiscal havia o registro da compra de pijama, camiseta e uma camisa polo.
A compra foi feita na loja de Joinville, na rua coronal Procópio Gomes. Na mesma loja, houve uma cliente que conseguiu comprar um celular no valor de R$ 1261,48, também no sábado à tarde.
Também no sábado, outra cliente conseguiu sair da Havan do bairro Fazenda, em Itajaí, com duas lâmpadas de LED.
Neste domingo, o publicitário Alex Stein, 45 anos, foi até a loja da Havan de Balneário Camboriú, onde comprou uma caneca 3D e um boneco. “A loja ainda faz propaganda enganosa. Os chocolates não estavam sendo vendidos a preço de custo como anunciou Luciano Hang nas redes sociais. Está muito caro o preço”, contou Alex.
Alex também cobrou coerência no discurso de Luciano Hang. “A gente consegue ver que a atitude do empresário, dono dessa rede de lojas, é igual a atitude de quem ele condenava e chamava de corrupto. Há hipocrisia. Aqui fora também tem empresário, aqui também tem gente que quer trabalhar, mas antes de querer trabalhar, precisa de uma sociedade que esteja saudável. A economia pode quebrar e a gente reconstrói, mas só se estivermos vivos,” completa.
Cadastrada no ramo alimentício
Para abrir as portas, a Havan se valeu da sua Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), que demonstra que além de ser uma loja varejista, também é do gênero alimentício, o que se equiparia a uma rede de supermercados. Isso apesar de a Havan nunca ter vendido nada além de guloseimas, bolachas, salgadinhos e chocolates. O foco das lojas é a venda de eletrodomésticos, eletrônicos, itens de casa.
O Diarinho