Matéria da NSC mostrou que, dos 165 candidatos com nenhum voto nas ultimas eleições legislativas, 153 são mulheres ou 92% do total.
Atribui-se isto à obrigatoriedade da cota de 30% de candidaturas femininas ou então o mero não preenchimento das vagas a ela destinadas. As causas desse desinteresse pelo voto – a tal ponto que nem as próprias candidatas votam nelas -, é o tradicional “compor a chapa” apenas para cumprir uma regra legal. Em muitos dos casos apontados na reportagem, há mulheres candidatas que chegavam a pedir para não serem votadas; outras nem sabiam por qual partido concorreram; sequer recordavam o número que lhe atribuíram.
Para especialistas, a inscrição de mulheres sem interesse na política, para preenchimento de cota, favorece o voto masculino.
Pela legislação, os partidos são obrigados a registrar a candidatura de pelo menos um terço de um dos gêneros. Com a participação maior de homens na política, porém, a regra ficou conhecida como cota das mulheres. Assim, para cada sete homens registrados é preciso ter três mulheres, e vice-versa. Na prática, a falta de uma mulher impede a candidatura de dois homens. Em todas as regiões do estado, 20 partidos tiveram candidatas que não ganharam sequer o próprio voto.
Em Anitápolis, uma das coligações divulgou o nome de dez candidatos homens e apenas uma mulher. Para cumprir a cota faltariam outras três mulheres. Apesar de não aparecerem no material divulgado, elas tiveram a candidatura registrada. Mas não receberam nenhum voto.
Direito lutado e desprezado
Em 3 de maio de 1933, na eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, a mulher brasileira, pela primeira vez, em âmbito nacional, votou e foi votada. A luta por esta conquista durou mais de 100 anos, pois o marco inicial das discussões parlamentares em torno do tema começou em meados do Século XIX, quando surgiu a imprensa voltada especificamente para o público feminino e, por meio dela, as primeiras articulações acerca do assunto.
Bem. Estamos há 85 anos com o voto feminino assegurado na plenitude e, no entanto, nem as mulheres votam nas mulheres.
O número final é muito ruim e comprova isso: no Brasil 18.244 candidaturas de mulheres não receberam nem o próprio voto na eleição de 2016.
A mudança começa por casa. Por isso tanto machismo (como as próprias mulheres acusam) reina absoluto na conquista do poder político. Sem culpa dos próprios homens. As mulheres são maioria da população e maioria consequente do eleitorado. Precisam se mexer.